Sully Prudhomme, poeta francês nascido no século XIX, dizia que o coração feminino é todo delicadeza. E devemos crer que suas palavras são de fato acertadas. É do espírito meigo e do coração terno da mulher que emana toda a calma e o equilíbrio que falta a nós, poços de machismo ambulantes, homens das cavernas internetizados.
Em todas as épocas, em todos os caminhos e esquinas do tempo e da história, a mulher tem exposto o seu diferencial humano, tem feito valer a sua maneira grácil e equilibrada de encarar a vida. Enquanto somos biologicamente mais propensos aos arrebatamentos e às intempéries comportamentais, as mulheres são equilíbrio e prudência, o arreio emocional que Deus pensou para o homem.
Desse modo, como em todos os meios onde a mulher expõe seu perfil artístico (embora muitos já tenham feito uso de seus laboratórios de crítica e batido o martelo de suas convicções sobre a tese de não haver uma significativa diferença entre a arte produzida pelo homem e aquela feita pela mulher), vemos também na poesia dos corações femininos esse enternecimento e sensibilidade criadora, a maneira diferenciada de interpretar e de expor sentimentos, amores e desamores, venturas e desventuras, defeitos e virtudes.
Também no "país de Mossoró" — expressão romântica do professor Vingt-un Rosado — temos as nossas augustas representantes do ofício poético. Mulheres naturais deste município ou que aqui participaram (e ainda participam) expressivamente da vida cultural da cidade, têm oferecido aos seus leitores e à história literária desta província as suas sensibilidades horizontalmente dispostas em verso e prosa.
Nomes antológicos como os de Cordélia Sílvia, Maria Escossilda, Nair Burlamarque, Maria Sylvia de Vasconcelos, Helen Ingersoll e Edna Duarte assistiram a uma Mossoró que vivia e respirava poesia, passando às gerações seguintes o espelho de seus sonhos e o alumbramento de suas almas canoras. Gerações que se aproximam sensorialmente pelo exercício benfazejo da arte poética, pelo encantamento libertador da palavra.
Maria Escossilda, mossoroense nascida aos 20 de dezembro de 1910 e morta aos 31 de dezembro de 1935, é um dos maiores talentos daquela época. Sua produção, sobretudo a poesia em prosa, está na linha das grandes cantoras da literatura nacional.
Vemos parte desse quilate em seu amaríssimo "A Dirceu", onde ela própria nos diz:
"Foi porque tive paixão, e tudo quanto amei, amei demais. [...] Você jamais viu se esconder no canto dos seus lábios um sorriso. Sabe por que? Porque eu morava na casinha de uns olhos, cantando à luz da alvorada". Ou como neste "Somente pra você", onde ela nos fala: "Mas... eu não sei cantar, /E há muito me esqueci /Duma melodia tristonha que aprendi /Na minha verde idade... /Quando eu cantei então /Com tanta fé e ardor /A aurora feliz do teu olhar, /Meu lindo Amor".
Nos dias de agora, outros nomes da lira feminina se apresentam às vistas do leitor de poesia. Lançada no mês de setembro do ano passado pela POEMA – Poetas e Prosadores de Mossoró, em parceria com a Fundação Vingt-un Rosado/Coleção Mossoroense, a antologia dos "100 Poetas de Mossoró" é, mesmo sob a contestação de uns e os maus olhos de outros, um registro importantíssimo do que se produziu em verso nesta cidade desde o século XIX até os dias de hoje. Nas 613 páginas do referido livro, juntamente com as poetisas de outrora, estão muitos e novos nomes da poesia atual, como Meire Kaliane de Freitas e Michelle Rosado Cure, ambas adolescentes no tempo e no ofício do versejar.
Nas páginas da referida obra estão, entre outros antologiados, Margareth Freire de Souza, que ocupa a função de torneiro-mecânico, autora do livro de poesia "Pedaços de Mim"; Vanja Reis, bancária, já com três livros de versos publicados; Cecília Maria Liberalino, professora, cantora e colaboradora da página de poesia do jornal O Mossoroense, e Rosa Augusta, pseudônimo de Terezinha Câmara da Silva, artesã e dona de casa, autora do livro de versos "Conheça-me Poeta", que será editado brevemente.
Em outros pontos do círculo literário mossoroense (apesar de toda a "dominação" e deseducação cultural do nosso povo), poetisas como Goreth Serra, Langeane Samária, Aline Linhares, Maria Luísa, Taniamá Vieira da Silva, Margareth Ameida, Symara Tâmara, Magda Amaral, entre tantas que citamos e outras que a memória não encontra, seguem com seus madrigais amenos e com suas harpas doces atraindo sensibilidades e aproximando corações.
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